domingo, 12 de abril de 2009

Plutarco/O Amigo e o Bajulador

(O bajulador) espreita, por assim, dizer, o primeiro germe de nossas paixões, a fim de atiçar o fogo, nutrir feridas perigosas, e entregar à corrupção essas partes viciadas de nossa alma. Você está encolerizado? “Castigue”, ele lhe dirá. Você deseja algo? “desfrute”. Você tem medo? “Fuja”. Você tem suspeitas? “Acredite”

Semelhante aos pintores ruins, cujo talento, muito fraco para exprimir os traços mais belos, só representam a semelhança através das rugas, cicatrizes e outras deformidades, (o bajulador) só sabe imitar as nossas desordens, nossas superstições, nossa cólera, nossa rigidez para com nossos escravos, nossa desconfiança para com nossos parentes e nossos próximos.

De qual bajulador é preciso se proteger? Daquele que não aparenta sê-lo, que nunca surpreendemos rodeando as cozinhas ou calculando no relógio a hora do jantar, e que nunca se permite à mesa nenhum excesso, mas que é sóbrio e moderado, curioso para ver tudo e tudo ouvir, procura antes envolver-se nos nossos negócios, penetrar em nossos segredos mais íntimos; enfim, aquele que, longe de interpretar seu personagem bufão ou comediante, conserva na conduta ou caráter sério e honesto.

Plutarco. Como distinguir o amigo do bajulador. Tradução de Célia Gambini. São Paulo, Scrinium, 1997

Nenhum comentário:

Postar um comentário